Excerto da entrevista de Jerónimo de Sousa, no Público, de hoje:
Que programa de ruptura propõem?
Quando falamos de ruptura e de mudança falamos de uma ruptura sustentada numa proposta para aquelas que, do nosso ponto de vista, são as questões centrais da sociedade portuguesa. Não vemos possibilidade de avançar, de ter um país melhor, sem o desenvolvimento económico, sem a procura do pleno emprego, sem crescimento, sem a valorização do trabalho e sem uma outra política de rendimento. É necessária uma política fiscal radicalmente diferente da que tem sido executada pois ninguém entende, por exemplo, que um pequeno ou médio empresário pague o IRC a uma taxa mais alta do que a banca.
Sem os off-shores a banca pagaria impostos iguais.
Lembram-se que, quando foi a cimeira dos países mais desenvolvidos, saiu de lá um rol de declarações de boas intenções. A verdade é que nenhuma medida das prometidas no campo da regulação e da supervisão avançaram. Por exemplo: é ou não possível aplicar às transações bolsistas uma taxa que fosse beneficiar o nosso tecido produtivo? É ou não é possível que a factura da electricidade baixe para beneficiar as famílias e as empresas? Nós não queremos que estas empresas deixem de dar lucro, mas por uma questão de justiça fiscal e de necessidade objectiva do crescimento e do desenvolvimento económico, consideramos que baixar as tarifas é uma medida crucial. O Governo diz que apoiou 30 mil PME’s, mas há outras 300 mil que ficam de fora. Sabendo que 90 por cento do emprego está nesse tecido produtivo, porque é que não há mais apoio ao nível do crédito, por exemplo.
O que defende para as PME não anda longe do que defende o PSD, que propõe que a Caixa Geral de Depósitos abra linhas de crédito para os pequenos e médios empresários...
A Caixa pode de facto ter aqui um papel importante, que sirva de exemplo para a banca privada.Agora o PIB não é elástico. Não dá para manter intocáveis os lucros abissais, extraordinários, e depois ter pena das pequenas e médias empresas. Estão sempre com pena dos pequenos comerciantes, mas depois não há medidas sobre regulação de horários.
Insistem no fecho ao domingo das grandes superfícies?
Entregámos uma proposta na AR nesse sentido. Com a salvaguarda das especificidades, pois não defendemos uma razia e encerramentos absolutos. Mas é um combate desigual. Diz-se que as grandes superfícies criam emprego, mas ninguém fala que por cada emprego que é criado numa grande superfície são abatidos três no pequeno comércio. E no quadro de desenvolvimento económico e de defesa do aparelho produtivo. Isto parece quase um chavão, mas num quadro de crise nacional e internacional é muito importante.
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